sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Para Laura

O texto abaixo eu escrevi para a minha filha Laura, que tá vindo por aí. Inspirei-me na ocasião do segundo ultra-som (primeiro que eu acompanhei), em que ela fazia questão de mostrar a mãozinha aberta, como a criança que mostra o brinquedo novo. A pequena parecia se descobrir. Parecia começar a se acostumar com o corpo que, ainda em formação, lhe fora dado.

"Como pode você, tão pequena, indefesa e vulnerável, tomar para si a minha vida, envolvê-la entre seus dedos miúdos e torná-la a mais repleta das experiências? Sou jovem ainda, tenho cá meus vinte e poucos anos, mas não imagino como viver neste mundo pode ser melhor do que sabendo que você, caprichosa e mansamente, vem chegando. Guarda pra si aí dentro o momento exato de ganhar o mundo, enquanto dele vem buscando a sua forma. De dentro para fora. Daqui, com meus olhos já não tão hábeis, te vejo “apenas” um maravilhoso borrão, a ganhar sua silhueta. Como a modelo, que se apanha surgindo na tela branca do artista, mas não tão imóvel. E quando te vejo, não na tela de uma moldura, mas em um fantástico televisor, seus movimentos, tão agitados e desajeitados, apresentam-se para mim como a mais bela expressão corporal que jamais ousei imaginar. São piruetas, cambalhotas, contorções e alongamentos, sofregamente acompanhados pelo meu olhar, agora mais ativo do que nunca. E penso cá com meus botões se tudo aquilo é de verdade, ou se não passa de mais alguma ilusão tecnológica, mais uma maravilha da realidade virtual. Não, você é de verdade. Uma verdade arrebatadora, que ao me apanhar em pleno vôo, só me fez voar mais alto, tão alto que seus pequenos olhinhos jamais poderiam me alcançar. E alcançar para quê, se é você que vem comigo? O vôo, que por tanto tempo foi-se solitário pelos cantões do mundo, em busca de aventuras e desventuras, aquieta-se, apaziguado, pois tem consigo a sua presença doce, a sua manifestação mais terna e encantadora. Preenche agora a minha vida de tal significação que ouso dizer jamais ter conhecido a verdadeira felicidade, antes de saber que você viria, antes de saber que você vem vindo, antes de te ver por aquela tela, dançando lindamente para me encantar ainda mais, como se necessário fosse. Deus já me abençoou com a paternidade uma vez, pois tratou de converter minha trajetória com a de seu irmãozinho Augusto. Ele vem agora repetir-me suas bênçãos. E é muito bom ter essa inédita sensação... pela segunda vez. É por isso que te espero, minha filha, carregado de todo o amor do mundo para recebê-la em meus braços, para sustentá-la em meu colo, e o peso do teu corpinho não será mais do que uma brisa, a soprar leve e docemente sobre mim. É assim que te espero, minha Laura. É assim que te vejo e te anseio. Desde sempre te vi. Desde sempre te imaginei. Desde sempre te quis. E por toda a eternidade serei grato a Deus, porque você me escolheu para chamar de pai."

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