domingo, 24 de fevereiro de 2008

0 X 0

E meu romance insiste em não sair. Meu conto teima em não nascer. A crônica? Ficou na vontade. Os poemas... só superficialidades. Outra madrugada se aproxima, com seu silêncio, de novas e incontáveis chances. A taça de vinho não me falta. Nem ela, nem o calor. A cidade ferveu, e agora queima suas cinzas, enquanto um novo dia se prepara por lados orientais. O sol prometeu que voltaria, e de volta traria as idéias, os conflitos, as rimas. Os olhos já vêm pesados. O peso da semana e das taças de vinho. Os dedos percorrem as teclas, numa melodia incerta e dissonante. Em mãos e corações hábeis, dissonâncias já viraram bossa nova. Nas minhas, são puro ruído. Idéias que não se concatenam, ou que, brevemente, vêem-se natimortas. 23h59min... na virada do próximo minuto, renovam-se as oportunidades. Paralelamente aos pobres e ricos mortais, não comemoro a virada do ano, mas a virada dos dias. Pois cada um deles vem renovar as minhas possibilidades de ser feliz. De produzir e reproduzir. Não seres... idéias! Logo logo vou para a cama. O sono representa o abrir mão do mais produtivo período do dia.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

A boa e velha madrugada!

É tarde da noite, na verdade, madrugada, que me encontro comigo mesmo e com minhas mais recônditas idéias. O silêncio no apartamento é convite ao pensamento, que viaja solto em meio a livros, discos e à solidão voluntária. O imperativo sono não deixa de dar o ar da graça, mas a vontade de curtir esse instante é maior. Não é sempre que o mundo me dá essas oportunidades. Cada vez mais compromissos, cada vez menos tempo livre... Tempo de flanar, para mim, tão fundamental quanto respirar. É nessas horas que me dou um descanso das obrigações – reais ou inventadas – e me ponho a divagar. Sou mesmo um ser da madrugada. Não foi sempre assim. Lembro-me que, mesmo depois da adolescência, sempre tive fascínio pelo dia. O sol me movia, como ainda me move. Amo acordar cedo, quando não estou muito cansado. Mas as noites, sobretudo as madrugadas, tornaram-se meu melhor alimento mental. Gosto de me permitir mágicos momentos de total introspecção. Não há melhor período para isso. A madrugada é um campo fértil para idéias de toda ordem. Seja para uma crônica, um poema, seja para um projeto ganhar a materialidade que o papel lhe proíbe... Por agora, tenho muito que ler. No entanto, motivo-me com a perspectiva de outro tanto que tenho a escrever. Minhas palavras, despretensiosamente, nunca foram tão produtivas quanto agora. Avanço por uma ascendente ciranda espiralada que, cada vez mais, me faz saborear o prazer de redigir o mundo. Pelo menos, o meu mundo, ou a maneira como eu o percebo.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Cartões corporativos

O ano de 2007 terminou e pensamos que a letargia do Congresso Nacional terminaria junto. Foram meses e meses de fatigantes Renan Calheiros e CPMF, com direito a recesso branco (ou sujo) da Câmara e muito blablablá no Senado. Eis que 2008 chegou, com a promessa de um novo tempo, de mais trabalho de nossos parlamentares, apesar das eleições municipais no fim do ano. O fôlego mal durou um mês. O novo escândalo, agora, os cartões corporativos, são claro indício de que vem aí mais um ano morto no Legislativo. Muita conversa, muita barganha, muita especulação e pouca produtividade. Espero estar, em vez de ser, mais uma vez, enganado. (Publicado na Folha Online - Painel do Leitor).

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Tá acabando...!

Terça-feira de Carnaval está para mim assim como domingo à noite está para a maioria dos mortais. Só que em versão turbo, plus, extra, tamanho-família, 1,25l etc, etc. Amanhã restarão as cinzas. E caras inchadas, amassadas, nas ruas, nos bancos, nos ônibus... Este ano, mais do que em outros, a rotina só vai começar agora, já que o Carnaval veio grudado nas férias de janeiro. Aproveitemos então o último dia, seja para pular, seja para descansar... Depois, não restarão muitos feriados bons... e 2008 veio com bônus de um dia.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

O melhor remédio para depressão

Sou franco defensor de que o melhor antidepressivo que existe é a cultura. Nos momentos em que me vi mais triste e desmotivado, um bom livro, um bom filme e mesmo boa música me fizeram as vezes das drogas de tarja preta. Entrar numa boa livraria e se automedicar é a melhor de todas as terapias. Depois de longos e saborosos minutos manuseando volumes, lendo orelhas e namorando capas, encontramos exatamente aquilo que precisamos. E nem sequer precisamos de receita. Não é incrível? Para dores de qualquer ordem (amorosas, existenciais, etceteras e tais), sugiro começar por uma boa comédia de erros de Shakespeare. As tramas, de leveza ímpar e humor refinado, são capazes de nos iluminar o horizonte, rompendo a barreira cinza das nuvens de nossa alma. O que restam são sorrisos. E muitos motivos para crer que a vida pode e deve ser muito mais divertida.

Tô me guardando pra quando o Carnaval passar...

Danuza Leão deu hoje na Folha de S.Paulo algumas boas dicas para quem prefere o Carnaval no conforto do melhor lugar do mundo, ou seja, a casa da gente. De fato, eis um lugar abençoado para se passar esse tempo, dias em que o país vira de ponta cabeça, tudo vale e tudo pode, como se a quarta-feira de cinzas não estivesse logo ali, oferecendo-nos retorno imediato à vida real. Ei, nada contra curtir intensamente a festa. Eu já fiz isso. Lembro-me agora de um maravilhoso Carnaval em Janaúba/MG. Uma turma animadíssima, de gente pra lá de divertida, foi até capaz de me fazer dançar axé ao som de trios elétricos. Lógico que preferi ficar num camarote a me embrenhar no meio da avenida. Mas foram dias de muita alegria e incontáveis gargalhadas. Anos se passaram e cá estou eu, curtindo o Carnaval de 2008 no melhor lugar do mundo. Um bom vinho acompanha, além de revistas, jornais, livros, mensagens virtuais de amigos, mensagens de amigos virtuais, minha linda filha dormindo sossegada em seu quartinho, minha esposa igualmente repousando dos últimos oito meses... e a Marquês de Sapucaí pegando fogo na TV. Olhando para trás, vejo que sempre fui mais ligado a descanso nesses dias. Ou então uma boa viagem a algum paraíso natural. Por hora, vou continuar saboreando a perfeita combinação de letras e vinho. Na televisão, milhares sambam por mim.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Flagras urbanos (e sinistros)!

Volto à ativa hoje, depois de um tempinho sem publicar nada. Dei-me uma licença-paternidade. E como neste exato momento minha anjinha dorme serenamente, é hora de retomar os trabalhos. Hoje, de uma maneira feia: olhando pela janela, para conferir se ainda chovia, vi esta cena, que achei tão curiosa e tão sinistra, que não resisti. Catei minha câmera e fui logo fazer o registro. Discretamente, é claro. Não pretendo invadir a privacidade de ninguém. Apenas um recorte (sinistro) do mundo real.