quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Argumento certeiro

Lendo hoje a Folha de S. Paulo, mais precisamente o caderno Folha Equilíbrio, não pude deixar de me encantar com a opinião de um leitor, sobre uma reportagem publicada na semana passada, no mesmo caderno, sobre a opção de não se ter filhos (e até mesmo a repugnância em tê-los). Estando então a cerca de 10 semanas de receber a nossa Laura - minha primeira filha "oficial" -, as palavras não deixam de ser emocionantes.
"Você não sente falta de filhos até a hora em que os tem. Aí, não sabe como ficou tanto tempo sem eles. Por coincidência, li a reportagem no dia em que eu e minha mulher levamos nossa filha de 23 anos para colar grau em medicina. Imaginem nosso orgulho. Acredito que gatos, cachorros ou bonsais nunca trarão essa satisfação" (Milton Mello Bonani)

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Viagens...

Dias quentes na capital. O solo impermeabilizado pelo asfalto só aumenta o desconforto. Andar pelo centro em dias como o de hoje é quase uma atividade esportiva. Felizmente, pelo menos as noites têm sido agradáveis. Deixo a casa aberta, para receber o frescor do vento úmido, anunciando chuvas de primavera. Dessa vez, ela não veio. Mas se fez lembrada e sentida. Amenizou o calor e deu brecha até para um capuccino, grande companheiro do teclado. Enquanto isso, vou descobrindo as maravilhas da nova câmera digital. Agora aprendi a me portar com a nova tecnologia. Não, o problema não é manuseá-la. O maior desafio é gerenciar o material obtido. Os megas e gigas só tornam a tarefa mais difícil. Nessas horas, até que sinto falta do limite das 36 poses. O que é pior: às vezes, os computadores também surtam. Recentemente, perdi TODAS as minhas fotos digitais. O acervo era de centenas... grandes momentos, e, principalmente, grandes viagens. De Ibitipoca então, eram uns 400 registros. Viraram fumaça. Restam-me as imagens gravadas na mente. E um pretexto para logo voltar. Não posso estar mais satisfeito! Nesse calorzinho então.... seria perfeito!

Sobre o medo

Ainda Rubem Alves, ainda Perguntaram-me se acredito em Deus. E seguem as lições diárias, as mensagens que me nutrem de conhecimento. Essa para mim é uma das grandes vantagens da leitura. Sim, ler é um hábito que nos enriquece culturalmente, fornece-nos informações e intepretações sobre tudo o que há no mundo (e sobre o que não há, mas que é tão necessário quanto), mas principalmente nos traz sabedoria. Sabedoria que se torna o melhor guia em situações-limite e mesmo nas casualidades do dia-a-dia.
"Os lobos continuam a uivar. E continuam a ser perigosos. O pastor não consegue espantar todos eles. E por vezes eles atacam e matam. Mas as ovelhas, ouvindo a música da flauta do pastor dormem sem medo, não porque não haja mais perigo mas a despeito do perigo. Não há jeito de acabar com o perigo. Mas há um jeito de acabar com o medo. Coragem é isso: dormir sem medo a despeito do perigo..."
Rubem Alves, em Perguntaram-me se acredito em Deus.

Cléo sobre o monitor

No perfil, cito a curiosa cena da Cléo, com cara de paisagem sobre o monitor, fazendo-me companhia enquanto escrevo no blog. Pois aí está a cena.






Reconquista de si

Sua vida não mais lhe pertencia. Deixou-a de lado. Abanonou a si próprio desde aquele primeiro encontro, para viver uma vida que não era sua. Não que bancasse um personagem. Simplesmente, anulava-se. Não tinha mais amigos, gostos próprios, opiniões. Tudo vinha daquela que ele amava. Mal podia imaginar que, desde a primeira abdicação, começava a cavar o fim daquela história. Afinal, relacionamento é via de mão dupla. Do contrário, vira uma aberração. Um monólogo. Agora, sentia que não tinha perdido só o seu amor. Perdera também a própria vida. E como seria difícil reconquistar a si mesmo!

domingo, 18 de novembro de 2007

Cada um com seus domingos

Rubem Alves tá mesmo rendendo nesse blog. Quem manda ser tão preciso? Seja nas próprias idéias, seja no arcabouço de leituras e referências, preciso.
"Alguns guardam o Domingo indo à Igreja -
Eu guardo ficando em casa -
Tendo um Sabiá como cantor -
E um Pomar por Santuário. -
Alguns guardam o Domingo em vestes bran-
[cas -
Mas eu só uso minhas Asas -
E ao invés de repicar dos sinos na Igreja -
nosso pássaro canta na palmeira. -
É Deus que está pregando, pregador admirável -
E o seu sermão é sempre curto.
Assim, ao invés de chegar ao Céu, só no final -
eu o encontro o tempo todo no quintal."
Emily Dickinson, citada por Rubem Alves, em Perguntaram-me se acredito em Deus

Um pouco de Cecília Meireles

"No mistério do Sem-Fim equilibra-se um
[planeta.
No planeta, um jardim.
No jardim, um canteiro.
No canteiro, uma violeta.
E na violeta,
Entre o mistério do Sem-Fim e o planeta,
O dia inteiro,
A asa de uma borboleta"

Cecília Meireles, citada por Rubem Alves, em Perguntaram-me se acredito em Deus

Efeito Borboleta

Intrigante constatar como cada mínima atitude do nosso cotidiano é capaz de impactar não só a nossa realidade, mas também a de tantas outras pessoas. O atraso que salva uma vida, ou o imprevisto que a tira. A paquera que frutifica em filhos, netos e bisnetos, ou o Hoje não vai dar. A gente combina outro dia. E a vida real, que não é apenas um, mas vários contínuos, articula-se e desencontra-se, encaixa-se e embaralha-se, em fantásticas ou desastrosas combinações. Agora, viva-se com esta verdade: de alguma forma, tudo o que você vive é conseqüência, em maior ou menor grau, de cada instante da sua vida e do que você faz com cada uma dessas peças. O tan gran está em suas mãos. O que você vai construir? E... caramba! Que coincidência! Acabei de assistir ao Efeito Borboleta e tenho aqui, sobre a mesa, Perguntaram-me se acredito em Deus, de Rubem Alves. Na capa, essas graciosas criaturas, oráculos da Fortuna, multiplicam-se num vôo errante. Se do bater das asas nascerá brisa ou furacão... sei dizer não.

sábado, 17 de novembro de 2007

While my guitar gently sleeps

Semanas ou meses depois, o violão volta para o meu colo. Os dedos já não suportam tão bem a pressão das cordas. Nem o ritmo é o mesmo. De algumas posições, eu sequer me lembro. O som é meio estranho. As velhas melodias de outrora amargam o peso da melancolia. Sinto-me de volta à casa da infância: tá tudo ali e nada restou. Agora, enquanto toco este outro instrumento, desgraçadamente de maneira muito mais hábil, o violão repousa tristemente sobre o sofá. Olhando para ele, é como se pudesse ver espectros movendo-se por dentro da caixa, enclausurados não pelas cordas, mas pela minha negligência. Tanto tempo e o velho companheiro retomava um pouco da afinação, com esperança de que, como hoje à noite, eu o tomasse de volta e exorcizasse aqueles fantasmas, e no lugar deles resgatasse alguns dos tantos sorrisos que em outros tempos ele naturalmente despertara.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

E por falar em "por falar"

Um dos textos mais geniais sobre a grotesca situação em que se encontram os nossos congressistas foi magistralmente escrito por Ruy Castro e publicado recentemente pela Folha de S. Paulo. De tão brilhante e apropriado ao momento, as tintas viraram pixels, e a crônica ganha cada vez mais blogs internet afora. Não poderia deixar de apresentá-la neste espaço.
"Como um tumor
Ruy Castro
Cientistas da Universidade de Hiroshima, no Japão, criaram uma rã transparente, cujas intimidades ficam expostas e podem ser perfeitamente observadas pelo lado de fora. Com isso, salvaram-se gerações inteiras de rãs, porque os cientistas não precisarão mais dissecá-las para saber como reagem às substâncias que eles vivem lhes injetando. Outra vantagem é a de que poderão acompanhar uma rã por todo o seu ciclo de vida - o ciclo de vida da rã, claro, não dos cientistas. Para chegar à rã transparente, os japoneses, craques em engenharia genética, levaram anos cruzando exemplares de rãs albinas. E agora partiram para aperfeiçoá-la: vão fazer com que qualquer corpo estranho que apareça dentro da rã se acenda. Um tumor, por exemplo. Já no Marrocos, também nesta semana, os cientistas da Universidade de Rabat conseguiram com que um pato nascesse no ovo de uma galinha. Se isso lhe parece meio mixo (afinal, no mesmo dia, em Recife, uma avó deu à luz seus próprios netos, lembra-se?), saiba que a proeza marroquina é considerada mais importante, pelo fato de os palmípedes e os galináceos constituírem famílias diferentes.Por coincidência, é o que se está discutindo em Brasília nos últimos dias: um político gerado num ovo destinado a palmípedes pode se baldear no meio do mandato para o terreiro dos galináceos, por ver neste mais oportunidades para ciscar? Em princípio, não. Mas, e se o eleitor só quiser saber do pinto ou do pato, e não do ovo de onde ele saiu? Essas mudanças nunca são de graça. Assim, sugiro convocar os japoneses para cruzar nossos políticos com as rãs albinas e, com isso, criar políticos transparentes. Quando um deles recebesse um corpo estranho -uma propina, por exemplo-, esse corpo se acenderia. Como um tumor." (Foto: www.educacional.com.br)

E por falar em Gulliver...

A política, apesar dos políticos, é para mim um assunto magnético. Além de acompanhar o noticiário diariamente no rádio, TV, jornais impressos e internet, tenho tido a sorte de encontrar grandes reflexões em meus livros de cabeceira. E normalmente no teor que mais me apetece - o crítico. Tomar notas das passagens favoritas de livros é hábito em minha rotina de leitura. Jonathan Swift, sem que eu esperasse por isso, está ganhando linhas e linhas em meus fichamentos, com suas ácidas conclusões competentemente proferidas pelos soberanos a quem Gulliver encontra em suas desventuras:
"Quanto a ele, resumira a ciência de governar em estretíssimos limites, reduzindo-a ao senso comum, à razão, à justiça, à brandura, à rápida decisão dos processos civis e criminais e a outras práticas semelhantes ao alcance de toda a gente e que não merecem referência. Por fim, arriscou este estranho paradoxo que, se alguém pudesse fazer crescer duas espigas ou dois bocados de erva num pouco de terra onde antes só havia um, mereceria mais do gênero humano e prestaria um serviço mais essencial ao seu país do que toda a raça dos nossos sublimes políticos"
Curioso como tais idéias soam atuais! Parecem até remeter a países menos "fictícios". Na dúvida, troco um caminhão de "sublimes políticos" por duas espigas de milho. Ah, é claro, devolvo a diferença.

Crônica do "nunca mais"

Dentre todas as terríveis faces da morte, nenhuma delas é pior do que a dimensão do “nunca mais”. Esta sim nos fere, nos dizima por dentro, nos estraçalha, no momento em que nosso coração não é mais do que o mais fino dos cristais, em queda livre, rumo a seu inevitável destino que o desintegra. Inevitável... como a própria morte. Tal constatação, obtida livremente do poder de metaforizar as coisas do mundo, em nada nos alivia do sofrimento pela perda de alguém que por nós tenha sido amado. Ao contrário, confere-nos a dura sensação da impotência diante de fato tão penoso. E curioso é saber como a mais triste faceta da vida é também a única que se tem por inerente ao viver. Ora, tudo que nasce já nasce a caminho de seu fim, que pode ser tanto o epílogo de longa jornada, quanto o prematuro fenecer que nem espera os primeiros passos. As possibilidades, estas sim são infinitas, tal qual nos parece ser o sofrimento impingido pelos primeiros instantes do luto. Mas eis que o tempo, este brincalhão, com todas as suas artimanhas, arranjos e sortilégios, mostra não nos faltar em tão terríveis ocasiões. Não é remédio milagroso. Não é droga que fagocita, se não a nossa dor, pelo menos os seus sintomas imediatos. Não é nada disso. É, antes de tudo, aquele que, após a queda e seus cacos, inicia um processo de rearranjo das idéias. De retomada da razão, que em absoluto nos tira a carga emocional, mas vem nos restabelecer a verdade de nossa existência, que nos revela: estamos vivos, mesmo que eventualmente tal realidade se apresente como desesperançada e desesperadora. E o tempo é tão sábio na condução de tal processo, que o faz organicamente inspirado pela cura dos ferimentos reais: estanca o sangramento, fecha o corte, regenera os tecidos e mantém a memória de tudo isso, na forma das cicatrizes. São elas, de fato, os troféus de nossas vitórias, sem deixar que nos esqueçamos de duas coisas: primeiro, de que perdemos; segundo, de que nos refizemos de nossa perda, sem ter perdido também a memória da coisa perdida, que permanece gravada em nossa pele para sempre. Portanto, amemos sempre. Amemos sem medo. As dores são inerentes ao processo. Dores que, em seu devido tempo, cicatrizam-se e transformam-se na experiência, na sabedoria, no fortalecimento emocional e, sobretudo, no tributo a quem hoje nos falta. (Foto: Baixaki)

Domínio Público

Meu hábito de leitura é dos mais caóticos. Começo mil livros ao mesmo tempo. Noves fora, pelo menos três de cada vez. Normalmente, um romance, um histórico e um de poemas ou crônicas, para não correr o risco de me perder por tantas e variadas linhas. Atualmente, tô nesse aí, Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift. Piração total! A imagem foi só para ilustrar. Não é a edição que tenho em mãos. Na verdade, venho baixando e imprimindo aos poucos diretamente do site Domínio Público. Há muito venho recebendo e-mails sobre o eventual fechamento do site, por falta de acesso, mas creio se tratar de mais um dos milhões de spams que teimam em infestar as nossas caixas. De qualquer forma, o site é muito bom. Tem um acervo razoável. Machado de Assis, por exemplo, tá todo lá. Vale a pena acessar e aproveitar esse tipo de benefício conquistado com a internet.

Para Laura

O texto abaixo eu escrevi para a minha filha Laura, que tá vindo por aí. Inspirei-me na ocasião do segundo ultra-som (primeiro que eu acompanhei), em que ela fazia questão de mostrar a mãozinha aberta, como a criança que mostra o brinquedo novo. A pequena parecia se descobrir. Parecia começar a se acostumar com o corpo que, ainda em formação, lhe fora dado.

"Como pode você, tão pequena, indefesa e vulnerável, tomar para si a minha vida, envolvê-la entre seus dedos miúdos e torná-la a mais repleta das experiências? Sou jovem ainda, tenho cá meus vinte e poucos anos, mas não imagino como viver neste mundo pode ser melhor do que sabendo que você, caprichosa e mansamente, vem chegando. Guarda pra si aí dentro o momento exato de ganhar o mundo, enquanto dele vem buscando a sua forma. De dentro para fora. Daqui, com meus olhos já não tão hábeis, te vejo “apenas” um maravilhoso borrão, a ganhar sua silhueta. Como a modelo, que se apanha surgindo na tela branca do artista, mas não tão imóvel. E quando te vejo, não na tela de uma moldura, mas em um fantástico televisor, seus movimentos, tão agitados e desajeitados, apresentam-se para mim como a mais bela expressão corporal que jamais ousei imaginar. São piruetas, cambalhotas, contorções e alongamentos, sofregamente acompanhados pelo meu olhar, agora mais ativo do que nunca. E penso cá com meus botões se tudo aquilo é de verdade, ou se não passa de mais alguma ilusão tecnológica, mais uma maravilha da realidade virtual. Não, você é de verdade. Uma verdade arrebatadora, que ao me apanhar em pleno vôo, só me fez voar mais alto, tão alto que seus pequenos olhinhos jamais poderiam me alcançar. E alcançar para quê, se é você que vem comigo? O vôo, que por tanto tempo foi-se solitário pelos cantões do mundo, em busca de aventuras e desventuras, aquieta-se, apaziguado, pois tem consigo a sua presença doce, a sua manifestação mais terna e encantadora. Preenche agora a minha vida de tal significação que ouso dizer jamais ter conhecido a verdadeira felicidade, antes de saber que você viria, antes de saber que você vem vindo, antes de te ver por aquela tela, dançando lindamente para me encantar ainda mais, como se necessário fosse. Deus já me abençoou com a paternidade uma vez, pois tratou de converter minha trajetória com a de seu irmãozinho Augusto. Ele vem agora repetir-me suas bênçãos. E é muito bom ter essa inédita sensação... pela segunda vez. É por isso que te espero, minha filha, carregado de todo o amor do mundo para recebê-la em meus braços, para sustentá-la em meu colo, e o peso do teu corpinho não será mais do que uma brisa, a soprar leve e docemente sobre mim. É assim que te espero, minha Laura. É assim que te vejo e te anseio. Desde sempre te vi. Desde sempre te imaginei. Desde sempre te quis. E por toda a eternidade serei grato a Deus, porque você me escolheu para chamar de pai."

Sozinho, às 19h.

Olhando para o porta-retrato empoeirado, sobre o criado, não conseguia conter a lágrima. Tampouco a respiração ofegante. A dor lhe doía no corpo e na alma. Cinco anos de intensidade. Agora, não restava mais nada, além de fotografias digitais salvas em pilhas de CD’s. E aquela foto, a única que ele uma dia decidira imprimir. Cinco anos que mereceram apenas um registro em papel. Era o sorriso mais espontâneo que ela já lhe dera, na primeira viagem dos dois juntos. Na foto, só ela. Agora, só, ele. Do outro lado da cidade, talvez ela chorasse as mesmas lágrimas. Ou sequer pensava nisso agora. A noite cai na cidade e nos indivíduos.

Iniciar - Todos os programas - Microsoft Word

Foram esses os primeiros passos para a primavera deste blog. Surgiu num click, como surgem os efêmeros romances de fim de noite. E como tal, não tem maiores pretensões. Se me servir de válvula de escape, já terá sido de todo útil. Aqui, as narrativas são curtas, às vezes não-lineares... talvez sem princípio e sem fim. É o meio que se justifica em si mesmo. A lousa da sala enquanto as crianças correm no pátio. Ou o piscante cursor do editor de texto piscando em Lin 1 Col 1.