sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Violência urbana - causa ou conseqüência?

O mercado de blindagem de automóveis está em alta. O mercado de circuitos internos de TV está em alta. O mercado de segurança particular patrimonial também está em alta. A indústria e o comércio desses e de muitos outros dispositivos de segurança vivem um consistente crescimento, sobretudo em países emergentes como o Brasil. Apesar dos maus ventos soprados pela grande crise da economia norte-americana, o setor de dispositivos de segurança vive a sua melhor fase.
A explosão desse mercado não se dá sem que seja precedida de profundas transformações na vida em sociedade. Os espaços públicos e de convivência gradualmente se tornam ociosos ou subutilizados. Nas ruas das grandes cidades, os carros circulam de vidros fechados. Os pedestres, agarrados aos seus pertences. Diariamente, sentimo-nos ameaçados por um fantasma chamado violência.
Essa realidade, que a cada dia faz aumentar a sensação de estarmos presos atrás de grades e muros, faz-nos pensar no fenômeno da violência e suscita questionamentos quanto à sua origem e suas conseqüências. A abordagem do tema se polariza em duas vertentes: primeiro, a violência como causa dessas mudanças sociais; e, segundo, a violência como conseqüência de um processo de exclusão social, inerente ao modelo capitalista, que tem se mostrado incapaz de eqüalizar oportunidades nas mais diversas camadas sociais.
É curioso, em períodos eleitorais como o atual, ouvir de candidatos as propostas relativas ao problema da segurança pública e da criminalidade. Uns defendem que a solução estaria no aparelhamento de polícias e forças de segurança. É a visão da violência como causa dos transtornos sociais. Outros defendem que a solução está em investir em políticas públicas de inclusão social. É a premissa da violência como conseqüência de uma realidade de desigualdade social.
Se considerarmos que a violência é a causa das profundas mudanças que estão ocorrendo na sociedade, constatamos a degradação não só das relações sociais, mas do próprio homem, que viveria um processo de bestialização e banalização da violência, a partir sobretudo da prevalência da individualidade e da competitividade entre os indivíduos.
Por outro lado, se verificarmos a questão da violência em países desenvolvidos, em que as oportunidades de emprego, saúde, educação e tantas outras necessidades sociais são devidamente supridas pelo estado, verificamos que a criminalidade existe, mas em proporções muito inferiores.
Com base nos argumentos aqui apresentados, a questão da violência parece muito mais uma conseqüência da exclusão social do que a causa de transformações sociais. Enquanto não dispusermos de condições mínimas e oportunidades equivalentes de desenvolvimento pessoal e profissional, as grades e os muros continuarão nos dando o alento de uma segurança que resolve sintomas, mas não o problema em si.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Vestido de Noiva

Sobre envelhecer com dignidade e fugindo um pouco de Madonna e REM, digna de nota a atuação de Norma Bengell, revivendo Madame Clessi, em Vestido de Noiva, da cia. de teatro “Os Satyros”. Gratificante vê-la em plena forma aqui no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, mesmo depois de uma contusão, que a impediria de vir, não fosse a sua fibra. Ao final, o choro de Norma foi a emoção de todos nós. Melhor ainda foi tê-la em Nelson Rodrigues, alguém que teima em, dignamente, não envelhecer nunca, graças a cada uma de nossas indignidades.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

"Dá pra resumir?"

O império da mediocridade avança sobre a raça humana! É triste e desesperador pensar como um batalhão de gente hoje em dia se exime justamente… de pensar! Qualquer mínimo exercício de reflexão torna-se tarefa hercúlea, que no mais das vezes, resulta em “ah, deixa pra lá…!”. Ou então na emblemática “dá pra resumir?”. O pensamento, a reflexão e o exercício da abstração, cara Lorena, caro Álvaro e amigos, são a base que nos diferencia dos animais irracionais. Não sei fazer juízo de valor se estamos mais ou menos evoluídos que os tais bichos. Mas sei que esse é um elemento que nos livra do nível da bestialidade. Abrir mão disso, por preguiça, negligência, ignorância ou coisa que o valha, é deixar o caminho livre para que tenhamos novos casos Richtoffens, Nardonis, ou outros “João Hélio”. Devemos nos agarrar, como um náufrago à sua bóia, a todo e qualquer lampejo de problematização da vida e das coisas da vida. Aqui em Belo Horizonte, ontem à noite, tivemos o prazer de ver Zeca Camargo e Rubem Alves na Bienal do Livro. Oportunidade ímpar de parar por um instante as tarefas do cotidiano… e de pensar. Pensar, refletir e dialogar sobre as coisas da vida, sobre o caráter múltiplo e multifacetado da existência humana. Eu, como muitos outros, esperamos horas por uma sessão extra, que Zeca e Rubem generosamente nos ofereceram, diante da grande procura. Grata espera que nos permitiu uma hora de boa conversa com essas grandes figuras. Tempo de pensar! Talvez Lorenas e Álvaros passassem por ali, com ar de enfado, e dissessem: “Blargh! Papo-cabeça…!”.

Não entendeu? Clique aqui.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

0 X 0

E meu romance insiste em não sair. Meu conto teima em não nascer. A crônica? Ficou na vontade. Os poemas... só superficialidades. Outra madrugada se aproxima, com seu silêncio, de novas e incontáveis chances. A taça de vinho não me falta. Nem ela, nem o calor. A cidade ferveu, e agora queima suas cinzas, enquanto um novo dia se prepara por lados orientais. O sol prometeu que voltaria, e de volta traria as idéias, os conflitos, as rimas. Os olhos já vêm pesados. O peso da semana e das taças de vinho. Os dedos percorrem as teclas, numa melodia incerta e dissonante. Em mãos e corações hábeis, dissonâncias já viraram bossa nova. Nas minhas, são puro ruído. Idéias que não se concatenam, ou que, brevemente, vêem-se natimortas. 23h59min... na virada do próximo minuto, renovam-se as oportunidades. Paralelamente aos pobres e ricos mortais, não comemoro a virada do ano, mas a virada dos dias. Pois cada um deles vem renovar as minhas possibilidades de ser feliz. De produzir e reproduzir. Não seres... idéias! Logo logo vou para a cama. O sono representa o abrir mão do mais produtivo período do dia.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

A boa e velha madrugada!

É tarde da noite, na verdade, madrugada, que me encontro comigo mesmo e com minhas mais recônditas idéias. O silêncio no apartamento é convite ao pensamento, que viaja solto em meio a livros, discos e à solidão voluntária. O imperativo sono não deixa de dar o ar da graça, mas a vontade de curtir esse instante é maior. Não é sempre que o mundo me dá essas oportunidades. Cada vez mais compromissos, cada vez menos tempo livre... Tempo de flanar, para mim, tão fundamental quanto respirar. É nessas horas que me dou um descanso das obrigações – reais ou inventadas – e me ponho a divagar. Sou mesmo um ser da madrugada. Não foi sempre assim. Lembro-me que, mesmo depois da adolescência, sempre tive fascínio pelo dia. O sol me movia, como ainda me move. Amo acordar cedo, quando não estou muito cansado. Mas as noites, sobretudo as madrugadas, tornaram-se meu melhor alimento mental. Gosto de me permitir mágicos momentos de total introspecção. Não há melhor período para isso. A madrugada é um campo fértil para idéias de toda ordem. Seja para uma crônica, um poema, seja para um projeto ganhar a materialidade que o papel lhe proíbe... Por agora, tenho muito que ler. No entanto, motivo-me com a perspectiva de outro tanto que tenho a escrever. Minhas palavras, despretensiosamente, nunca foram tão produtivas quanto agora. Avanço por uma ascendente ciranda espiralada que, cada vez mais, me faz saborear o prazer de redigir o mundo. Pelo menos, o meu mundo, ou a maneira como eu o percebo.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Cartões corporativos

O ano de 2007 terminou e pensamos que a letargia do Congresso Nacional terminaria junto. Foram meses e meses de fatigantes Renan Calheiros e CPMF, com direito a recesso branco (ou sujo) da Câmara e muito blablablá no Senado. Eis que 2008 chegou, com a promessa de um novo tempo, de mais trabalho de nossos parlamentares, apesar das eleições municipais no fim do ano. O fôlego mal durou um mês. O novo escândalo, agora, os cartões corporativos, são claro indício de que vem aí mais um ano morto no Legislativo. Muita conversa, muita barganha, muita especulação e pouca produtividade. Espero estar, em vez de ser, mais uma vez, enganado. (Publicado na Folha Online - Painel do Leitor).

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Tá acabando...!

Terça-feira de Carnaval está para mim assim como domingo à noite está para a maioria dos mortais. Só que em versão turbo, plus, extra, tamanho-família, 1,25l etc, etc. Amanhã restarão as cinzas. E caras inchadas, amassadas, nas ruas, nos bancos, nos ônibus... Este ano, mais do que em outros, a rotina só vai começar agora, já que o Carnaval veio grudado nas férias de janeiro. Aproveitemos então o último dia, seja para pular, seja para descansar... Depois, não restarão muitos feriados bons... e 2008 veio com bônus de um dia.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

O melhor remédio para depressão

Sou franco defensor de que o melhor antidepressivo que existe é a cultura. Nos momentos em que me vi mais triste e desmotivado, um bom livro, um bom filme e mesmo boa música me fizeram as vezes das drogas de tarja preta. Entrar numa boa livraria e se automedicar é a melhor de todas as terapias. Depois de longos e saborosos minutos manuseando volumes, lendo orelhas e namorando capas, encontramos exatamente aquilo que precisamos. E nem sequer precisamos de receita. Não é incrível? Para dores de qualquer ordem (amorosas, existenciais, etceteras e tais), sugiro começar por uma boa comédia de erros de Shakespeare. As tramas, de leveza ímpar e humor refinado, são capazes de nos iluminar o horizonte, rompendo a barreira cinza das nuvens de nossa alma. O que restam são sorrisos. E muitos motivos para crer que a vida pode e deve ser muito mais divertida.

Tô me guardando pra quando o Carnaval passar...

Danuza Leão deu hoje na Folha de S.Paulo algumas boas dicas para quem prefere o Carnaval no conforto do melhor lugar do mundo, ou seja, a casa da gente. De fato, eis um lugar abençoado para se passar esse tempo, dias em que o país vira de ponta cabeça, tudo vale e tudo pode, como se a quarta-feira de cinzas não estivesse logo ali, oferecendo-nos retorno imediato à vida real. Ei, nada contra curtir intensamente a festa. Eu já fiz isso. Lembro-me agora de um maravilhoso Carnaval em Janaúba/MG. Uma turma animadíssima, de gente pra lá de divertida, foi até capaz de me fazer dançar axé ao som de trios elétricos. Lógico que preferi ficar num camarote a me embrenhar no meio da avenida. Mas foram dias de muita alegria e incontáveis gargalhadas. Anos se passaram e cá estou eu, curtindo o Carnaval de 2008 no melhor lugar do mundo. Um bom vinho acompanha, além de revistas, jornais, livros, mensagens virtuais de amigos, mensagens de amigos virtuais, minha linda filha dormindo sossegada em seu quartinho, minha esposa igualmente repousando dos últimos oito meses... e a Marquês de Sapucaí pegando fogo na TV. Olhando para trás, vejo que sempre fui mais ligado a descanso nesses dias. Ou então uma boa viagem a algum paraíso natural. Por hora, vou continuar saboreando a perfeita combinação de letras e vinho. Na televisão, milhares sambam por mim.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Flagras urbanos (e sinistros)!

Volto à ativa hoje, depois de um tempinho sem publicar nada. Dei-me uma licença-paternidade. E como neste exato momento minha anjinha dorme serenamente, é hora de retomar os trabalhos. Hoje, de uma maneira feia: olhando pela janela, para conferir se ainda chovia, vi esta cena, que achei tão curiosa e tão sinistra, que não resisti. Catei minha câmera e fui logo fazer o registro. Discretamente, é claro. Não pretendo invadir a privacidade de ninguém. Apenas um recorte (sinistro) do mundo real.

domingo, 6 de janeiro de 2008

É domingo, é noite e isso é ótimo!

O silêncio do apartamento às 23h12min se enche de encanto com a chuva caindo lá fora. Não sei por que as pessoas detestam as noites de domingo. Ela chega serena e placidamente, como todas as outras, mas ninguém a vê. Só se pensa na manhã de segunda, nos compromissos, nos horários, nas obrigações... e se esquece de uma noite inteira de grandes possibilidades. Já foi ao cinema domingo à noite? Experimente! Sobretudo se for um filme leve. Você verá o quanto voltará para casa com o corpo, a mente e o espírito tranqüilos, não para enfrentar, mas para viver uma nova semana, que está apenas começando.

Salve o planeta sim!

O artigo do professor José Eli da Veiga, na Folha de hoje, nos fornece um novo enfoque sobre o importante debate da preservação do planeta, diante das agressões motivadas pelo homem. Segundo Veiga, até mesmo as terminologias estariam incorretas, já que o que está na berlinda não é a prosperidade da Terra, mas da própria existência humana. O texto sugere que o problema só tem sido abordado a partir de uma perspectiva antropocêntrica, já que a maior parte das formas de vida, como as bactérias, baratas e amebas, não estão nem de longe ameaçadas. Aos nossos olhos leigos, o texto parece cientificamente perfeito e bem embasado. No entanto, se Darwin mostrou ser impossível que qualquer espécie possa se eternizar, me parece legítimo que nós, seres humanos, empenhemos nossos esforços, ao menos, para que nosso fim não seja prematuro e que a nossa passagem não desequilibre outras formas de vida. Mesmo que o slogan pareça presunçoso, “salvemos o planeta!”. Afinal, penso que bactérias, baratas e amebas não farão parte das nossas árvores genealógicas.

Sobre as mentiras de Lula

A situação de desmazelo em que se chafurda a política brasileira encontrou perfeita correspondência no episódio do aumento do IOF e da CSLL. De um lado, um governo que, sem o menor pudor, mente, ilude e rasga acordos. E ainda o faz com escárnio, como na infeliz fala de Mantega, para quem as promessas do governo de não aumentar imposto se limitariam ao ano de 2007. Do outro, uma oposição infantilizada, cuja ingenuidade chega a ser até suspeita. Afinal, é no mínimo intrigante que caciques como Virgílio e Agripino tenham, mais uma vez, caído na conversa de Lula, Jucá, Mantega e companhia, sobre a questão do aumento de impostos para compensar a CPMF perdida. De parte a parte, não há vencedores. E no meio de tudo isso está o contribuinte, mais uma vez chamado a pagar a conta da incompetência do governo na administração das contas públicas.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Prioridades oficiais

A “Questão de prioridade” (Folha de S.Paulo, Editoriais, 2/1) brilhantemente levantada por Ricardo Mello é, no mínimo, emblemática. Beira o humor negro que o chefe-de-gabinete da Casa Civil, João Germano Bottcher Filho, esteja tão preocupado com o calor paulistano e com a “urgência” de um ar condicionado no auditório do Palácio dos Bandeirantes, enquanto várias pessoas poderiam ter sido torradas vivas dentro de um Hospital das Clínicas, que sequer possui autorização dos bombeiros para funcionar. Então, para os governantes, qual é a prioridade? Reformar o palácio ou o HC? O contribuinte, conhecendo a classe, não terá dificuldades para chegar à miserável conclusão. Afinal, agüentar terno e gravata sem ar condicionado no calor de São Paulo, não dá, não é? E, se mesmo assim, alguém ainda tiver dúvida de qual será a prioridade, um lembrete: pela versão oficial, o único óbito ocorrido após o episódio foi motivado pelo “estado terminal do paciente”.

Feliz minuto novo!!!

Passadas as festas de fim de ano, hora de retomar a “vida normal”, com todas as suas alegrias e provações. É engraçado observar como a sensação de completude vivenciada nas últimas horas de dezembro é rapidamente transformada em ponto zero, na virada do ano. Como um livro que terminamos de ler e que, surpreendentemente, já na página seguinte, abre uma nova história. No entanto, no mais das vezes, a prática é que se continue a mesma história. Isso porque as resoluções de 1º de janeiro, para muitos, mal duram até o dia seguinte. A velha batalha entre preguiça e disciplina. Projetos seguem enclausurados no papel, na mesma medida em que demandamos um rito de passagem para nos dispormos às mudanças. Impressionante o que as convenções podem fazer em nossas vidas, e também o que podem não fazer. E, ainda que seja uma convenção, para que não percamos a motivação de transformar a nossa vida em algo ainda melhor (afinal, estar vivo já é uma bênção!), o meu desejo para 2008 é que não deixemos as grandes mudanças dependerem de um marco temporal. Mas se você é um desses que não consegue pensar diferente, o tempo também é seu aliado. Afinal, você pode mudar o ponto referencial, da virada do ano, para a virada de um dia. Se for mais entusiasta, quem sabe a virada de uma hora? Bom mesmo seria a virada de um minuto. Para tanto, você tem 60 segundos para mudar a sua vida. Aproveite! Feliz minuto novo!