sábado, 29 de dezembro de 2007

Palavras que falam ao coração...

Tenho uma mania incorrigível de anotar trechos marcantes de minhas leituras. Nisso, já cansei de deixar papeizinhos anotados dentro dos livros - e de perdê-los, lamentavelmente. Por isso, começo a organizar a minha mania no computador. Penso: não posso conceber que tão maravilhosas pérolas permaneçam adormecidas dentro dos livros que já li, e as recorto para a elas sempre retornar. Atualmente, acompanha-me "Ana Karênina", de Tolstói. De início, uma dessas preciosidades me surge: "Nada a distinguia das pessoas que a rodeavam. Quer na atitude, quer no traje. Liêvin, no entanto, logo a reconheceu no meio da multidão, tão distintamente como reconheceria uma rosa num ramo de urtigas. Parecia tudo iluminar, dir-se-ia um sorriso que tudo fizesse refulgir à sua volta. ‘Ousarei, realmente, descer até a pista e aproximar-me dela?’, pensou Liêvin. O lugar onde estava Kitty parecia-lhe um santuário inacessível, e por momentos sentiu tanto medo que pensou em fugir. Teve de fazer um grande esforço para se convencer de que Kitty, rodeada como estava por toda espécie de gente, não podia achar estranho que também ele ali aparecesse. Desceu até a pista, evitando olhá-la de frente, como se ela fosse o sol, mas, sol que era, também não precisava de a olhar para vê-la.”

Violência urbana... até quando?

O adiantado da hora e uma taça a mais de vinho não me alijam da reflexão. Pelo contrário, penso eu, aguçam a percepção. A violência urbana, por mais corriqueira que se apresente, continua a chocar. Destrói famílias, abrevia histórias, joga na vala comum sonhos e ilusões que agora são apenas passado ou mera lembrança dos que ficaram. Diariamente, vidas são levadas, não raro, estupidamente. Até quando deveremos nos curvar à ditadura da resignação? Eis o caminho natural para se superar a dor e conseguir levar a vida, depois do choque da perda. Até quando? Se olharmos para a justiça, restará a ampliação do desespero. Se olharmos para o ritmo natural da vida em sociedade, depararemo-nos com uma realidade ainda mais desesperadora. Ou seja, o desamparo é total. O que fazer? Jornais, revistas, estudiosos há muito tentam responder. Inutilmente, até agora. O homem, lobo do homem, segue sendo seu próprio algoz. Até quando a ditadura da violência pairará sobre nós?

sábado, 15 de dezembro de 2007

O mais bonito do mundo!

Não há como não se sentir a pessoa mais bonita do mundo, tendo sido tocado pela fortuna. Antes que, além da pessoa mais bonita do mundo, eu também me torne o melhor alvo para seqüestro-relâmpago do mundo, não me refiro aqui à fortuna financeira. Falo daquela outra, cujo significado pode ser boa sorte, ventura, êxito. E por quê? Bem, se eu quisesse abreviar o relato – não seria de todo mal, porque o espaço aqui é curto –, o simples fato de estar vivo e com saúde já me tornaria esse esplendor de beleza. De fato, que maravilha! Acordar toda manhã, olhar e sentir o dia nascendo, com seu frescor de sol brando e luz amena... não é um presente? O corpo acaba por captar o espetáculo e, tal como a lua, que reflete a poesia do sol, toma emprestado tamanho deslumbramento para gerar o seu. Aquilo que nos torna magistralmente belos vem dos primeiros instantes de nossas vidas. Eis a época em que a natureza, envaidecida de mais uma vez ter produzido o ser mais bonito do mundo (e são milhares todos os dias), deixa-nos com aquele aspecto tão encantador e tão peculiar dos bebês. Agora, aqui sentado no meu computador, ao som dos Beatles e com o violão no colo, espero pacientemente que a natureza repita o espetáculo. É a minha Laura que vem chegando. Só mais dois meses, pelos quais esperarei a reprise de uma apoteose única.

Sobre o prazer de escrever...

Daniel Kehlmann é alemão, tem 32 anos e tornou-se o mais recente fenômeno literário da Alemanha, com o seu "A Medida do Mundo", lançado no Brasil e que já teve os direitos de tradução vendidos para mais de 40 países. Do autor, trago a seguinte frase: "O que me fascina na escrita é esse aspecto de que é possível viver mais vidas do que normalmente se pode".

sábado, 8 de dezembro de 2007

A paternidade que nos encoruja

Esse lance de ser papai é realmente uma baita curtição! A sensação é simplesmente plena. Uma alegria que teima em não ir embora (graças a Deus!). E olha que ela nem chegou ainda! Mas já se achegou para perto do meu coração. E quanto mais ela cresce, parece que o que mais quer neste mundo (que ainda não viu) é estar bem perto. Isso talvez explique os chutes e contorções, o esforço de se fazer notada (como se necessário fosse). Tais movimentos só reafirmam a ânsia por um contato mais próximo entre a filhinha que vem chegado e a mamãe e o papai, que só fazem pacientemente esperar. E enquanto esperamos, experimentamos a inigualável glória que é gerar vida. O prazer nos inebria e intensifica tudo que há no mundo. E só de vê-la, na nítida distorção de um ultra-som, passo a não mais caber em mim, de felicidade. Paz e amor pra ti também, minha filha!

domingo, 2 de dezembro de 2007

Drama corintiano: torcedor também é culpado!

Que me perdoem os corintianos, que hoje amargam um dos dias mais tristes da história do clube, mas essa reação de "amor materno", incondicional, é uma das muitas causas da descenso do time à série B do ano que vem. Está "sobrando paixão" e faltando cobrança. Não vou aqui querer defender um time em detrimento do outro, mas já vi certa vez a torcida do Cruzeiro vaiando o time quando o placar lhe era favorável em três tentos a zero. Isso porque os jogadores se acomodaram na partida, pararam de correr e começaram a esbanjar um certo preciosismo pedante. Torcida tem que apoiar, claro! Mas também tem que cobrar, principalmente dos dirigentes. Futebol, além de uma fogueira de paixões avassaladoras, é também um baita negócio. A nota preta que o esporte movimenta faria qualquer assalariado brasileiro correr uma maratona sorrindo. Se deixar, os caras enchem os bolsos e deixam tudo como está. E se ficar passando a mão na cabeça, como vimos nas últimas rodadas do Brasileirão, o Corinthians já começa 2008 com a vaga garantida na série C em 2009.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Exercício sociológico

Na sala de bate-papo, o mesmo de sempre. Fulano de tal entra na sala. Beltrano sai. X grita com Y. W flerta com Z. Alguém mais animado, convenientemente escondido atrás da tela e dos óculos remendados, externa seus mais lascivos ímpetos. Mexe com todas as mulheres, inclusive as do sexo feminino. Alguns filosofam, aproveitando a solidão que lhes envolve, na vã esperança de que seus papos abstratos atraiam alguém cabeça. Outros querem apenas corpo e membros. Outros, só corpos. Outros, só membros. Tem de tudo. Os nomes são os mais variados: deusa de ébano, gato da noite, don juan, escritor, ou, (não) literalmente, morena gostosa. Vale de tudo. Perversidades à solta naquela noite de sábado. Nem precisa daquele trago para criar coragem. Todos estão ocultos e imunes a valores ou à timidez. Vale fantasiar. O quanto quiser. Solteiros, casados, viúvos... a solidão não escolhe suas vítimas na noite alta. Acomete até quem não está só.