quarta-feira, 29 de abril de 2009

Gripe suína: um tema (in)conveniente

Antes que se levantem suspeitas, adianto um testemunho: pelo menos dessa gripe suína nossos parlamentares não são culpados. São totalmente inocentes, embora saibamos que, por baixo daquelas abóbadas do Planalto Central, também haja muita lama e sujeira, sem máscara que forneça alívio àqueles ares um tanto quanto contaminados, que se espalham por todo o território nacional.
Na real, a malfadada gripe suína tem feito um enorme bem aos congressistas de Brasília, pelo menos no que diz respeito ao interesse da opinião pública. Justiça seja feita (sem supremas capangagens, diga-se de passagem): a imprensa permanece vigilante às “porcarias” que deputados e senadores têm feito com o dinheiro público. Mas é claro que a iminência de uma pandemia, seja de que patologia for, causa uma generalizada apreensão, e torna-se o assunto do momento. Tanto melhor para os aproveitadores das mamatas oficiais, que se veem, pelo menos momentaneamente, resguardados de determinados e inconvenientes questionamentos.
Na política, os tempos atuais têm sido fétidos e nem os narizes entupidos por qualquer espécie do influenza se salvam. Já que a existência dessa atmosfera putrefata se mostra, há décadas, inevitável, vale lembrar que os porcos – denotativos e conotativos – nos trouxeram mais do que uma moléstia. Pelas mãos de George Orwell, no clássico “A Revolução dos Bichos”, foi o porco Major o responsável por despertar em todos os animais da Granja do Solar uma certa consciência política para a revolução do Animalismo, regime que, em tese, os livraria de toda forma de opressão e oportunismo exploratório humano. Orwell, em sua obra-prima, instava que nos mantivéssemos (nós e a bicharada da Granja do Solar) atentos às fraquezas humanas e na maneira como elas se impõem. E impressiona o quanto as tais fraquezas se fazem evidentes quando se fala em poder, em dinheiro e, sobretudo, nos dois juntos.

A canção da farra aérea

O Brasil viveu recentemente aquela que pensávamos até então ser a pior das crises aéreas. Famílias inteiras, incluindo idosos e crianças de colo, passaram noites jogadas em aeroportos, devido a atrasos em cascata e cancelamentos de voos. Eis que, mais uma vez, vêm os nossos congressistas nos dar mostras claras de que, por aquelas bandas, nenhuma crise é tão ruim que não possa ser piorada. É fato que aquela primeira crise parece, pelo menos por hora, contornada. Não estamos vivendo mais o inferno nos aeroportos. Mas é de novo pelos aeroportos do Brasil que somos tragicamente aviltados, desta vez, sob o aspecto da moralidade pública (ou da falta dela) pelas mãos de nossos representantes. É passagem aérea para tudo e para todos. Marido, mulher, namorada, sogra... todos parecem ter vez nessa vasta sala de embarque. Novamente, o público e o privado se misturam e se contaminam, por meio de condutas espúrias. E como o mal está espalhado,não respeitando ordenamento partidário, resolve-se pelo caminho mais fácil de sempre: o famoso “de hoje em diante, é proibido”. Ou seja, não interessa punição ao uso imoral do nosso dinheiro até então. Enquanto isso, nobres deputados como Silvio Costa e Marcelo Ortiz, entre outros, apontam o quão dispendioso para suas excelências será levar a tira-colo suas esposas e familiares, sem a mamata da farra aérea.
Para amenizar, nada como os providenciais e pertinentes versos de “Samba de Orly”, de Vinícius, Toquinho e Chico. Em minha livre interpretação, difícil ver notícia boa vinda dos aventureiros da pesada, em sua omissão nada forçada, naquela vida à toa. Não dizem nada nem pedem perdão quando nos veem chorando. Só seguem voando. Vai irmão, vai genro, nora, sogro, sogra, esposa e quem mais couber, pois, em Brasília, não existe overbooking.
“Vai meu irmão / Pega esse avião / Você tem razão / De correr assim / Desse frio / Mas beija / O meu Rio de Janeiro / Antes que um aventureiro / Lance mão / Pede perdão / Pela omissão / Um tanto forçada / Mas não diga nada / Que me viu chorando / E pros da pesada / Diz que vou levando / Vê como é que anda / Aquela vida à toa / E se puder me manda / Uma notícia boa”

Como anda a produtividade dos políticos?

Senadores e deputados devem estar comemorando o fato de o mar de escândalos que assolou as duas casas legislativas repousar agora em relativa calmaria. Duas considerações há que se fazer sobre isso: primeiro, não houve até o momento nenhum grande ato ou consideração que desses respostas efetivas à sociedade sobre cada um dos escândalos, tampouco sinalização para a punição de eventuais transgressores. Em segundo lugar, Senado e Câmara, bem como todas as demais instituições legislativas e executivas, não podem jamais deixar de frequentar o noticiário. Porém é hora disso acontecer não para que saibamos de novos e velhos escândalos, mas para que tomemos conhecimento da produtividade de cada um dos poderes. E para que o noticiário político passe a publicar a efetividade produtiva de cada poder, é condição primária que esses homens (e mulheres) públicos passem a produzir. Afinal, a culpa da onda de escândalos não é da imprensa.
É de quem escandaliza ou deixa escandalizar. Não há forçação de barra para que as pautas jornalísticas sejam tomadas pelos desvios. Na realidade, ao que parece, o que existe é uma miserável compulsão pela transgressão pela classe política. E isso, jornais, revistas, tevês, rádios e internet não podem, jamais, ignorar, sob pena de se tornarem tão improdutivos como têm sido nossos congressistas.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Sugestão de leitura para congressistas

Não é de se espantar que venha agora o sr. Wellington Salgado, nobre senador (suplente) da República, solicitar um manual para saber a quem ele pode nomear. Não nos esqueçamos de que ele é um típico caso de "senador de 0 voto", ou seja, alguém que caiu de para-quedas na Casa, na condição de suplente, graças à nomeação do titular da vaga, o sr. Hélio Costa, ao Ministério das Comunicações.
Tendo em vista a aparente pouca familiaridade de muitos senadores com o assuntos relativos ao princípio da moralidade, e também o baixo empenho dos seus pares em normatizar de uma vez tais questões, sugiro ao senador (suplente) que busque ler qualquer coisa relativa ao assunto "Ética na Administração Pública". Penso que será de grande valia. Afinal, é sempre tempo de se aprender coisas novas.

Feijão racionado e 'a' arroz de festa

Não tem jeito: nem quando cai na real, "o cara" cai na real. Sooou estranho? Explico.
"O cara" perdeu semanas e mais semanas importantíssimas, tentando negar a existência de uma crise que saltava à vista de olhos de todas as cores, do mundo inteiro. Enquanto isso, a grande onda devastava economias (no macro) e famílias (no micro). Dizimava empresas, deixando, para contar história, um rastro de pais e mães de família desesperados.
Eis que os fatos, escancarados, vindos de encontro à cara "do cara", tardiamente foram notados. E qual a providência do mais popular de todos? Novas pérolas e mais metáforas.
Diante do inevitável corte no repasse de recursos aos municípios, textualmente pediu aos prefeitos medidas criativas para o problema. OK, o brasileiro é muito criativo e dá jeito para (quase) tudo. Como, por exemplo, botar água no feijão. Chico Buarque brilhantemente deu não só a receita, mas também o milagre da multiplicação.
Afinal, já que governar é eleger prioridades, não estaria de todo errado o raciocínio. Só não dá para entender por que "o cara" não coloca a sua vasta máquina administrativa para botar água no feijão. Em lugar disso, "o cara" prefere a penúltima estrofe da feijoada completa: "Diz que tá dura, pendura a fatura no nosso irmão". E assim, "o cara" vai transferindo e delegando soluções as quais ele mesmo não enxerga.
A continuar nessa fervura, penso que "o cara" precisará de medidas criativas também para delegar e transferir os votos para a "Ministra-Chef", que, a propósito, já virou arroz de festa e acompanhamento indispensável do prato principal.
Só queria saber quem é que vai conseguir arrumar essa cozinha.

domingo, 5 de abril de 2009

De olho no PPP Brasil. É só espiar! (Cap. 16)

A desfaçatez, uma praga que histórica e desgraçadamente fez e faz parte do cotidiano do Congresso, ganha contornos patológicos. Diante da avalanche de escândalos que foram e continuam sendo revelados pela imprensa - atenta, alerta e atuante -, deputados e senadores resolvem negar as evidências dos fatos. Agora, quer-se fazer crer que o problema da paralisia das casas legislativas esteja em uma suposta onda de denuncismo, na tentativa de se terceirizar a responsabilidade por um Congresso inepto.
É verdade que, na vida acadêmica, todo estudante de jornalismo aprende que não existem fatos, e sim interpretações. No entanto, os desvios, sejam de hoje, sejam de longa data, mostram-se tão flagrantes, tão evidentes, que chegam a ser quase interpretativos por si mesmos.
No mais das vezes, os fatos atuais querem dizer basicamente uma coisa: há um profundo e estrutural desrespeito pela coisa pública, uma conveniente e propositada “confusão” entre o que é público e o que é privado. Isso sem falar no caráter negligente de muitos daqueles que recebem do eleitor uma procuração para se tratar de toda e qualquer deliberação.
Agora, chega-se ao cúmulo de quererem nos fazer crer que a atividade parlamentar é, por si mesma, onerosa aos congressistas, e que aquele que se dispõe ao referido “ônus”, o faz por pura vocação ao serviço e ao bem público.
Analisando mais a fundo essa afirmação (que, em princípio, soa como um impropério), a coisa torna-se ainda mais nefasta. Afinal, se a atividade parlamentar, por si só, é onerosa a quem a exerce, talvez seja porque as negociatas, os lobbies, as maracutaias e o abuso no uso de verbas oficiais, que tanto lhe rondam, superem – e muito – a remuneração pelo seu “simples exercício”. Nas entrelinhas, pode-se deduzir que muitos parlamentares considerem irrisório o que recebem pelo “simples cumprimento do mandato”, já que tal ordenado não deve chegar nem perto daquilo que vem "por fora".
Se a ideia de tal afirmação era dar a entender que os congressistas o são por puro desprendimento, o resultado parece ser o exato oposto, mais um notório tiro no pé, o que só faz aumentar a sensação de desilusão com os nossos representantes.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

De olho no PPP Brasil. É só espiar! (Cap. 15)

Seria ótimo se fossem mentiras, mas, no Brasil,…

- … empresas espalham doações indiscriminadamente entre partidos de situação e oposição, não com base em ideologia política, mas em puro fisiologismo negocial;

- … na verdade, inexistem ideologias políticas bem definidas. No lugar, apenas legendas de conveniência;

- … Renan continua mandando no Legislativo Federal, trazendo, a reboque, Almeida Lima, Collor, Wellington Salgado e outros “brindes”;

- … na cabeça de muitos políticos, público e privado são tudo um emaranhado só. Isso dá origem a castelos (de concreto ou de areia), mansões, passagens de avião no atacado, diretores no atacado, celulares públicos emprestados a filhos, empregadas domésticas pagas pelo Estado, servidores que não servem (ou se servem apenas ao enriquecimento particular e ainda debocham da balbúrdia do nosso Legislativo) etc etc.;

- marolinhas, em vez de apenas molharem as canelas, afogam e contigenciam recursos fundamentais ao desenvolvimento.
Com a espantosa capacidade e criatividade de nossos representantes, em dar origem a inacreditáveis anomalias, fica difícil celebrar o Dia da Mentira. Sendo assim, sugiro a sua extinção. De verdade.