domingo, 5 de abril de 2009

De olho no PPP Brasil. É só espiar! (Cap. 16)

A desfaçatez, uma praga que histórica e desgraçadamente fez e faz parte do cotidiano do Congresso, ganha contornos patológicos. Diante da avalanche de escândalos que foram e continuam sendo revelados pela imprensa - atenta, alerta e atuante -, deputados e senadores resolvem negar as evidências dos fatos. Agora, quer-se fazer crer que o problema da paralisia das casas legislativas esteja em uma suposta onda de denuncismo, na tentativa de se terceirizar a responsabilidade por um Congresso inepto.
É verdade que, na vida acadêmica, todo estudante de jornalismo aprende que não existem fatos, e sim interpretações. No entanto, os desvios, sejam de hoje, sejam de longa data, mostram-se tão flagrantes, tão evidentes, que chegam a ser quase interpretativos por si mesmos.
No mais das vezes, os fatos atuais querem dizer basicamente uma coisa: há um profundo e estrutural desrespeito pela coisa pública, uma conveniente e propositada “confusão” entre o que é público e o que é privado. Isso sem falar no caráter negligente de muitos daqueles que recebem do eleitor uma procuração para se tratar de toda e qualquer deliberação.
Agora, chega-se ao cúmulo de quererem nos fazer crer que a atividade parlamentar é, por si mesma, onerosa aos congressistas, e que aquele que se dispõe ao referido “ônus”, o faz por pura vocação ao serviço e ao bem público.
Analisando mais a fundo essa afirmação (que, em princípio, soa como um impropério), a coisa torna-se ainda mais nefasta. Afinal, se a atividade parlamentar, por si só, é onerosa a quem a exerce, talvez seja porque as negociatas, os lobbies, as maracutaias e o abuso no uso de verbas oficiais, que tanto lhe rondam, superem – e muito – a remuneração pelo seu “simples exercício”. Nas entrelinhas, pode-se deduzir que muitos parlamentares considerem irrisório o que recebem pelo “simples cumprimento do mandato”, já que tal ordenado não deve chegar nem perto daquilo que vem "por fora".
Se a ideia de tal afirmação era dar a entender que os congressistas o são por puro desprendimento, o resultado parece ser o exato oposto, mais um notório tiro no pé, o que só faz aumentar a sensação de desilusão com os nossos representantes.

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