quarta-feira, 29 de abril de 2009

A canção da farra aérea

O Brasil viveu recentemente aquela que pensávamos até então ser a pior das crises aéreas. Famílias inteiras, incluindo idosos e crianças de colo, passaram noites jogadas em aeroportos, devido a atrasos em cascata e cancelamentos de voos. Eis que, mais uma vez, vêm os nossos congressistas nos dar mostras claras de que, por aquelas bandas, nenhuma crise é tão ruim que não possa ser piorada. É fato que aquela primeira crise parece, pelo menos por hora, contornada. Não estamos vivendo mais o inferno nos aeroportos. Mas é de novo pelos aeroportos do Brasil que somos tragicamente aviltados, desta vez, sob o aspecto da moralidade pública (ou da falta dela) pelas mãos de nossos representantes. É passagem aérea para tudo e para todos. Marido, mulher, namorada, sogra... todos parecem ter vez nessa vasta sala de embarque. Novamente, o público e o privado se misturam e se contaminam, por meio de condutas espúrias. E como o mal está espalhado,não respeitando ordenamento partidário, resolve-se pelo caminho mais fácil de sempre: o famoso “de hoje em diante, é proibido”. Ou seja, não interessa punição ao uso imoral do nosso dinheiro até então. Enquanto isso, nobres deputados como Silvio Costa e Marcelo Ortiz, entre outros, apontam o quão dispendioso para suas excelências será levar a tira-colo suas esposas e familiares, sem a mamata da farra aérea.
Para amenizar, nada como os providenciais e pertinentes versos de “Samba de Orly”, de Vinícius, Toquinho e Chico. Em minha livre interpretação, difícil ver notícia boa vinda dos aventureiros da pesada, em sua omissão nada forçada, naquela vida à toa. Não dizem nada nem pedem perdão quando nos veem chorando. Só seguem voando. Vai irmão, vai genro, nora, sogro, sogra, esposa e quem mais couber, pois, em Brasília, não existe overbooking.
“Vai meu irmão / Pega esse avião / Você tem razão / De correr assim / Desse frio / Mas beija / O meu Rio de Janeiro / Antes que um aventureiro / Lance mão / Pede perdão / Pela omissão / Um tanto forçada / Mas não diga nada / Que me viu chorando / E pros da pesada / Diz que vou levando / Vê como é que anda / Aquela vida à toa / E se puder me manda / Uma notícia boa”

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