terça-feira, 5 de maio de 2009

Três Poderes abafados

Por que não podemos nos acomodar? Resposta rápida: porque tem gente grande acomodada demais, em instâncias oficiais.
Na capital federal, que já tem fama de ser uma cidade seca e abafada, abafar tornou-se mesmo palavra de ordem. Imperativo. Diretriz. Premissa básica. E o que é pior: nos Três Poderes. Pior ainda: simultaneamente.
Nas casas legislativas, a farra das passagens aéreas chegou às primeiras páginas com grande estrondo, como um avião em pleno pouso, ou como um caça que rompe a barreira do som. Houve muito bate-boca, muita choradeira e muito marido "exemplar" resmungando iminente crise conjugal pela ausência da esposa.
Constrangimento generalizado, justificativas enviesadas, até Michel Temer dar a canetada mágica, pacificadora e apassivadora, prometendo mais rigor na liberação de passagens. Rompeu-se a barreira do som para erguer-se a do silêncio, posto que os abusos cometidos até agora ficarão irremediavelmente impunes.
Mesma complacência de que se vale agora o Senado, pela canetada mágica de José Sarney. Percebe-se um monumental e conveniente desinteresse em se apurar as denúncias de corrupção na Casa, feitas pelo casal Zoghbi. A delegação de tal tarefa à Polícia Legislativa, subordinada aos próprios senadores, é claro indício de que, por ali, abafar é realmente preciso.
No Executivo Federal, Lula vê tudo o que acontece por perto como tempestade em copo d'água. Realiza publicamente um desagravo aos congressistas, taxando deteminadas críticas como se fossem rasgos de hipocrisia. Pela incontinência verborrágica, diz, por exemplo, que quando deputado, distribuiu passagem aérea a sindicalistas... e acha tudo normal.
A tríplice silenciosa termina justamente na Suprema Corte. Até hoje, não sabemos absolutamente nada sobre capangas, sobre atos de destruição da justiça brasileira e coisas afins. A estátua que representa a Justiça, além de vendada, parece amordaçada.
Enquanto líderes e representantes de todos os poderes convenientemente se amordaçam e buscam recorrentemente a tática do "abafa o caso", quem acaba abafado somos todos nós, que, como sempre, permaneceremos condenados à eterna benevolência do corporativismo oficial.

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